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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Motivos pelos quais eu não troco meus livros por um Kindle


     por Lucas L. Rocha
 
Pois é: todo esse papo de que o livro vai acabar e que as novas tecnologias vão mudar o mundo está se tornando cada vez mais constante nas mesas redondas e conversas de bar. Os xiitas tecnológicos pregam a dizimação completa e total do papel, alegando motivos que vão desde as vantagens de preço dos e-book readers até o desmatamento das florestas amazônicas.
Eu, como leitor e comprador assíduo de livros em qualquer formato, idade ou grau de decomposição, tenho muitas ressalvas ao se tratar de e-book readers. Até que seria uma boa desocupar todas as minhas estantes e ter um pouco de espaço livre, guardar toda a minha vida e minhas obras preferidas em um cartão de memória e sair andando por aí com uma biblioteca na mochila. Seria prático, sem sombra de dúvidas.

Prático, sim. A mesma coisa, nunca.

Tive a oportunidade de mexer em um Kindle dia desses. A tela é confortável aos olhos, a leitura não é cansativa e parece que você realmente está olhando para uma folha de papel e não para uma tela. O aparelho é leve, dinâmico e tem todos os atrativos para que os doidos por tecnologia passem a gostar de leitura, tudo para entrar no hype. Mas havia qualquer coisa nele que não me chamava tanta atenção assim. Talvez fossem as teclas pequenas para digitar alguma observação ou o fato de que existiam teclas para se anotar observações, ou apenas um repúdio natural de um cara que adora papel e acha que o lugar de livros são as estantes e não os cartões de memória.

Enfim, aqui vão alguns motivos pelos quais eu não trocaria os meus livros por um Kindle.

a) Livros não são roubados em locais públicos

Esse pode parecer um argumento estúpido, mas é o primeiro em que penso quando coloco na balança se devo ou não ter um e-book reader: a maleabilidade. Não estou tratando aqui do peso e da fragilidade do aparelho, mas sim da segurança do mesmo.

Sejamos sinceros: quem rouba um livro dentro de um ônibus, numa praça ou em uma mesa na praça de alimentação? Não há grande interesse por parte de assaltantes em tomos de Tolkien ou Eça de Queiróz, mas um aparelho eletrônico, tenha a origem ou a função que for, é chamativo. E eu sou paranoico, moro no Rio de Janeiro e tenho a tendência de achar qualquer pessoa suspeita. Não daria muito certo.

b) Livros não ficam sem bateria

Outro argumento bastante interessante. Imagine a cena: você está completamente absorvido pelo livro, lendo uma cena de guerra épica ou uma declaração derrete-coração de amor e, quando vira a página, pffff, a bateria acaba. Desespero. Desolação. Raiva. Vontade de jogar o Kindle pela janela do décimo terceiro andar e quebrar tudo o que vê pela frente.

Ok, eu posso estar exagerando um pouco, mas é realmente frustrante você virar a página e perceber que não tem mais nada lá. Com um livro, isso dificilmente acontece. Claro que há alguns problemas de diagramação e/ou impressão em alguns casos, mas eles são raros. E aparelhos eletrônicos seguem a lei de Murphy: quando você precisa deles, eles não funcionam.
E não vou nem entrar em muitos detalhes no que diz respeito ao aparelho pifar de vez. Backups são altamente recomendados, é tudo o que tenho a dizer.

c) Livros não têm prazo de validade

Vivemos em um mundo capitalista e é ilusão pensar que aparelhos eletrônicos são feitos para durar para sempre, porque não são. Não importa que você coloque o seu aparelhinho em uma capa de silicone e envolva-o em uma caixa de algodão e isopor, em algum momento ele VAI quebrar. É inevitável.
A longo prazo, ignorar completamente os seus livros de papel e devotar o seu amor literário ao aparelho eletrônico não é muito vantajoso.

d) Você não vira a página de um Kindle

Falemos de algo mais subjetivo: a mágica. Aquela coisa de abrir o livro, folhear as suas páginas, senti-las correndo em seus dedos, cheirar o livro e sentir seu cheiro de novo – ou velho, se for de sua preferência –, folheá-lo do início ao fim, abrir em uma página qualquer e ler um trecho desprendido do resto da trama daquele romance que você está namorando na livraria. Sim, tudo isso conta.

O Kindle não tem cheiro de papel e não é concreto como o livro. Isso conta muito para um apaixonado por livros: o fetiche. O ato de poder olhar para uma estante repleta de livros e puxar um deles, ver sua história, mergulhar em seu mundo e em sua proposta. O e-book reader não traz isso. Não traz essa satisfação que, para mim, é essencial ao pegar um livro para ler.

***

Gosto de novas tecnologias, de coisas surgindo a todo o momento e de reciclagens, mas tenho uma opinião muito particular quando os livros são colocados no meio da discussão. Não acredito que os livros em papel terão um fim – o DVD não matou o cinema e a TV não matou o rádio, como todo mundo já sabe –, mas sim que conviverão pacificamente com os e-book readers.

Para mim, Kindles e equivalentes só seriam vantajosos para substituir um Vade Mecum de direito, um Aurélio ou um livro de histologia. Mas não com a literatura ou com os livros que gosto de rabiscar apontamentos e sublinhar citações.

Para esses, reservo um espaço na minha estante. Mesmo que, atualmente, esse espaço esteja cada vez mais escasso.

12 comentários:

  1. Muito bem argumentado!! sempre tive essa opinião, mas meus amigos fascinados por tecnologia nunca entendem essa parte crucial de que um e-book não é a mesma coisa que um livro!!
    parabéns! =)

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  2. Faltou o "e) Kindles não podem ser rasgados em momentos de fúria"!

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  3. perfeito esse texto.. concordo com tudo o que foi dito! livro é algo apaixonante demais para ser substituído por um e-book reader...

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  4. Realmente gostei deste post pq concordo muito com ele. Sou apaixonada por computador e tecnologias, mas nunca deixarei de ser a viciada em livros q sempre fui. O ultimo motivo q expôs, realmente deve ser considerado, um Kindle não tem a mesma magia. Parabéns pelo blog!!

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  5. Pô, Lucas... te dizer que eu até acho maneiro ler em computador e aparelhos tecnológicos. Mas foi mó gostoso fazer minha mudança de casa e pegar um caixotão de livros! haha

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  6. Acho que o fim dos livros de papel seriam uma boa por um único motivo, desenvolvimento sustentável, fora que seria mais prático, pois ocuparia bem menos espaço das prateleiras.

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  7. Concordo cara! A mágica de folhear o livro, sentir o cheiro do livro, admirar a capa, e ver uma estante cheia do msm alimenta meu ego ..
    Esses simples detalhes que quase ngm nota, são os mais impotantes.

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  8. Mágico seria carregar um Vade Mecum inteiro em menos de 200g. Eu me sentiria no paraíso.

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  9. Hahaha, Kindles não tem páginas pra virar. Excelente.

    De minha parte, também prefiro livros em papel, mas gostei do Kindle quando o vi pela primeira vez. Bem confortável à vista, não joga luz na sua cara e lembra bastante uma página normal. A questão da segurança me parece válida, pelo menos num primeiro momento, quando a tecnologia ainda não tão popular assim.

    Mas o que me deixa mais irritado é realmente o papo de que o livro de papel está condenado e coisa e tal. Enquanto isso deve deixar os xiitas tecnológicos babando de satisfação, o simples bom senso parece apontar numa direção diferente. Olha pra História e vê se alguma vez já aconteceu algo dessa proporção, uma tecnologia com séculos de existência ser sobrepujada assim de uma hora pra outra por uma nova. Não vai rolar. O mais provável é que ambas as mídias continuem lado a lado.

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  10. Um dos pontos principais, fora a magia de virar uma página, é a segurança. O meu lugar e horarios de leitura são ônibus e pontos de ônibus, e dependendo do horario, nao me sentiria seguro com um Kindle.
    Mas discordo que da certeza do livro coexistir com o e-reader. Deram o exemplo da TV e do radio... mas e os CDs e LPs? Hj em dia vc ve um LP, mas sao dificeis de encontrar, reservados mais aos aficcionados mesmo. Acredito que o caminho seria mais por ae.

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  11. Adorei o texto, e verdade mesmo, ler em um livro e muito melhor do que ler um e-book, sempre que posso opito por ler livros. Mas, não condeno a disponibilização dos e-books na internet não, alem de ter me salvado algumas vezes nos estudos ( livros academicos) também me possibilitou ampliar a quantidade e qualidade de livros lidos por mim. Agora entre o livro e o Kindle, por todos os motivos ditos por vc continuo com os meus livros, salvo as exceções que fico dias lendo no pc.

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  12. "É uma declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica, ou a uma situação que contradiz a intuição comum" Wikipédia.
    Sim, isso é um paradoxo tirado do mais novo pai dos burros.
    O que estou querendo dizer que é claro que nós como amantes de livros não permitiríamos a idéia de um e-book , o livro é uma tradição imagine sua mãe lendo pra vc antes de dormir em um kindle perderia totalmente a graça.
    Mas isso meu amigo é a evolução, infelizmente não vivemos mas em um mundo onde se podia nadar em rios ou brincar de pique na rua(se uma criança fizer isso hoje certeza ela será atropelada ou raptada) o nosso anseio pelo mais nos levou a tanta evolução, e se não quisermos viver em um mundo onde o oxigênio vai ser em tubo e a Amazônia uma lembrança todos as formas de não desmatamento são muito bem vindas, e não eu não estou feliz com isso eu, curto rockabilly um mundo onde as roupas não deformavam o corpo e ser bissexual não era moda,os lps o rock’n’roll de verdade!! Na real eu tenho medo do futuro,tudo que somos e tudo que gostamos pode perder a graça.

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