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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Seja esquisito!

por Natacha Orestes

Eu sou esquisita. Não consigo me imaginar realizada se tiver um puta salário sem paixão pelo que faço. Sou um fiasco para me vender, embora precise disso para sobreviver. Prefiro falar de como superei aspectos negativos da minha personalidade do que como conquistei as pouquíssimas coisas materiais que, entre aspas, possuo. 
Odeio ser o centro das atenções. Mas também acho insuportável não ter atenção nenhuma das pessoas importantes pra mim. Ouço conselhos, mas faço o que me dá na telha: sou empírica. Penso demais, o que me torna complexa. Mas na prática, sou prática. Não costumo gostar de bolo de aniversário, mas sempre experimento um pedacinho pra ver se não mudei de ideia (eu vivo mudando de ideia). Leio muito, vários livros ao mesmo tempo, mas geralmente só o que me atrai. Tenho cinco livros de Nietzsche e vou confessar que não terminei de ler nenhum. E não entendi a maior parte do pouco que li. Acho que uma pessoa deve estar preparada para uma leitura. Eu não estou preparada para superar o egocentrismo do Nietzsche. Sou fascinada por Clarice Lispector. Sou totalmente inquieta: só que por dentro. Minha mãe fala que quando eu era neném, dava muito trabalho por não dar nenhum trabalho. Explico: ela tinha que adivinhar se eu tava bem ou tava doente, porque eu era quietinha demais. Podia estar queimando de febre que não chorava. Tenho 24 anos e ainda não aprendi a expressar minhas dores. Nem as físicas, nem as emocionais. Guardo quase tudo. E fico desconcertada quando me adivinham. Mas aliviada também. Quero ser mãe. Todos os meus esforços para construir minha trajetória e minha vida estão relacionadas com a estrutura que quero dar a mim mesma e aos meus filhos. Acredito no amor. Acredito no amor infinito. Duvido de tudo o que foi dito sobre deus até hoje, mas não duvido que exista algo mantendo o universo em movimento, algo inimaginável e indefinível. Acredito porque sinto. Não penteio meus cabelos. Odeio falar ao telefone. Não gosto muito de falar. Prefiro escrever. E quando escrevo, evito os fatos. Gosto do que se sente e do que se pensa em relação aos fatos – apesar desse texto em especial retratar nada mais nada menos do que: fatos. Não uso salto alto. Se existe um poder feminino, não creio que esteja na altura do meu sapato. Não me importo de usar um pé de cada meia quando não encontro o par certo. Prefiro calcinhas de algodão. Me sinto muito mais confortável entre pessoas simples em suas aconchegantes casas velhas. Não assisti a um só capítulo de Lost. Não tenho peitões, nem vontade de colocar silicone. As pessoas que mais amo são totalmente diferentes de mim. Acho muitas pessoas que escrevem errado muito mais inteligentes do que algumas que fazem questão de corrigir o “português errado” das outras. Às vezes, quando estou muito feliz, me pergunto: o que vem depois de “ser feliz”? E concluo que “ser feliz” não é nada, e me acho patética. Sabe aquela frase que diz “ Vocês riem de mim por eu ser diferente. Eu rio de vocês por serem todos iguais.”? Pois então: eu sorrio para todos, porque acho tudo isso uma grande bobagem. Eu sou realmente muito esquisita. E sabe qual é o preço que pago por isso? Ser eu mesma.

Portanto, bata o pé e grite “não!” quando o mundo cobrar de você alguma coisa que não tenha nada a ver com aquilo que você essencialmente é. Seja um estranho para todos. Mas não seja um estranho pra si mesmo. O preço que você paga por “ser você” pode ser alto. Mas nunca será mais alto do que o preço que você pode pagar por “não ser você”. 

20 comentários:

  1. foda, muito foda. me identifiquei 100%

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  2. "E fico desconcertada quando me adivinham. Mas aliviada também."

    de repente, se abrir mais pode ser legal.. individualidade é importante, buscar ser diferente é importante. mas não pode esquecer que todos somos iguais, na categoria de seres humanos!!

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  3. Ana Luísa Guimarães5 de janeiro de 2011 às 22:30

    Caramba, tá demais! Um dos melhores que li aqui.

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  4. Uau!! Ameiii!! Me identifiquei mto e percebi q vc eh especial e linda assim por ser qm vc eh e naum ter medo!!

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  5. Adorei o texto...
    "Seja um estranho para todos. Mas não seja um estranho pra si mesmo. O preço que você paga por “ser você” pode ser alto. Mas nunca será mais alto do que o preço que você pode pagar por “não ser você”"
    E a plena verdade...

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  6. Adorei o texto, me identifiquei com muita coisa.
    Não escrever sobre os fatos e sim sobre o que se sente e pensa em relação a eles tem tudo a ver comigo.
    E sim, também sou uma estranha para os outros (vivem dizendo isso).
    Mas pelo menos não sou estranha para mim mesma.

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  7. Eu também não gosto de escrever fatos, são entediantes e irrelevantes no que realmente interessa, a emoção. E você não é estranha, você é que é normal até demais. Regras da sociedade? 90% estúpidas. Escrever correto, não têm nem emoção sô, pru bem ou pru mal, vivê é animal...

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  8. Concordo.

    Ser você pode ser difícil, pode ser doloroso, pode até perder coisas, pessoas, mas na realidade no final das contas ter sido você já é ganhar tudo.

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  9. uau... texto perfeito!
    um dos melhores que já li aqui! [2]
    parabéns!

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  10. "Se existe um poder feminino, não creio que esteja na altura do meu sapato" Dei pala =D
    Muito bonito o texto, parabéns! De certa forma, achei a versão poética do texto que o Marcel Albuquerque escreveu tem pouco tempo (A romantização da vida, se bem me lembro). Anyway, todos vocês estão de parabéns!

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  11. Muito bom de verdade. É como ler Clarisse, cada texto é uma faceta de quem o lê. Traduzindo a nós mesmos, acabamos por traduzir a essência de muita gente. Até porque no fundo, somos iguais exatamente porque dentro de nós, nos sentimos diferentes.

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  12. o melhor texto q eu ja vi alem de te a minha cara minha amiga q me indico (uma irma) parece q ela me conhece bem e olha q eu nao gosto ler isso me interesso de uma forma diferente realmente fui sou e sempre serei esquisita

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  13. Ana B. não entendi o "dei pala". Por que pala?

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  14. um dos melhores que ja vi
    copiei seu te4xto pro meu blog
    coloquei os direitos e claro

    http://loucuraengarrafada.blogspot.com/2011/01/me-sinto-esquisito.html

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  15. KKK,incrivel você tem 24 anos e não descobriu a identidade personificativa ainda,kk essa coisa de ser diferente querer ser diferente de todos,inclusive a FRASE VOCES RIEM DE MIM é do kurt cobain um babaca grunge medito a diferente,mais o por tras,kurt era o MAIOR POP dos anos 90,todas as meninas retardadas que curtem restart hoje em dia,na epoca era o nirvana,ser diferente tem suas vantagens pra quando é adolescente,e eu admito que ainda estou nessa fase,sou homem tenho um cabelão e rosto feminino e acho bonito isso,mas daqui uns 2 anos vou ver o quanto fui ridiculo raspar isso e malhar

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