por Julya Tavares
Imaginem a seguinte situação: um computador abarrotado de arquivos. Todos eles supostamente importantes e alguns até imprescindíveis para o seu bom funcionamento. A máquina, sem possuir sequer liberdade para escolher o que vai ou não reter, muitas das vezes nem percebe o “plug in” do USB, o download feito através da internet ou até mesmo alguém a digitar e salvar alguma ladainha em sua memória. Pense, também, na quantidade de vírus que esse computador recebe sem se dar conta. Acho que qualquer um alfabetizado digitalmente é capaz de chegar à conclusão de que uma hora vai dar merda, certo? Agora se liga só: Essa máquina é você.
Iixi, o cérebro deu leg? Ok, pense: você assiste TV todos os dias? Não falo de programas jornalísticos, pode ser até a novela mexicana do SBT (ora, atire a primeira pedra quem nunca viu pelo menos alguma cena da saga de Thalía em Marimar-sol-dobairro-e-qualquer-outra-coisa-que-caiba). Tem o hábito de ler? Fuxica orkut-twitter-facebook, site de famosos ou acessa o Le Mond? Procura teses de doutorado na internet? Se faz essas coisas ou não, acredite, ainda assim recebe algum fluxo de informação. Minha pergunta é: isso pode ser um problema?
Lembram-se de um romance espanhol, cujo personagem principal é um louco que insiste em lutar contra moinhos de vento? Se não reconhecem pela descrição, digo-lhes que esse é Dom Quixote, do famoso Miguel de Cervantes. Segundo conta a história, Dom Quixote era dos homens mais letrados da Espanha, porquanto dedicava tempos e mais tempos a livros, em sua maioria, romances de cavalaria escritos na Idade Média, acredito eu. De acordo com interpretações, Dom Quixote era esquizofrênico, por isso delirava; vivia situações que não existiam e acreditava ser um herói. Narrativas à parte, considera-se fato que o personagem ficou louco por excesso de informação, nesse caso, de leitura. Por Deus! De maneira nenhuma estou incentivando a não-leitura, somente acredito na incapacidade que algumas pessoas têm para lidar com excessos, o que pode ser muito problemático, como no caso de Quixote. Ouvi que certa vez ofereceram um livro de literatura a Einstein e ele o devolveu, dizendo não entender nada. Ora! Como pode um dos maiores gênios de nosso tempo dizer que não entendeu qualquer coisa da vida? Inaceitável, né? Bom, há um cara chamado Walter Benjamin, que num ensaio sobre o papel do narrador, aponta a retenção exagerada de informação como destruidora da sabedoria, que, para ele, são as experiências únicas, como as da infância, por exemplo; não aquelas pelas quais passamos cotidianamente. Benjamin cita ainda o surgimento da imprensa como principal produtora informacional, o que pode ser afirmado até os dias atuais.
O fato incontestável é que tudo isso só acontece devido ao sistema, que nos enfiou a globalização guél'abaixo, com a proposta de mundo sem fronteiras somente como liquido para empurrá-la. Por mais que nos seja possível avistar todos os cantos do mundo a um click, dificilmente todos seremos capazes de explicar os motivos pelos quais, na Bahia, por exemplo, o povo fala cantando. Isso, se falam mesmo, claro. Pergunto-me, afinal, o que fazer com tantos aparelhos, com tantas letras, com tantos verbos, com tantas teses e com nenhuma conclusão. A verdade é que, sinceramente, já pensei, mas não sei. O pior é ter a consciência do que se é valorizado hoje em dia; daquilo que a mídia impõe como necessidade; do que o governo exige que pensemos a respeito de violência, a respeito de pobreza. A respeito do que quiserem! A gente, muitas das vezes, aceita mesmo, não tem jeito.
Não sei se o Walter Benjamin está certo em sua teoria, não sei também se sou a única que se sente cansada com tanta coisa para lembrar, opinar e saber. Mas, pra mim, conhecimento só é bom se eu souber o que fazer com ele, além de também estar ligado ao prazer. Caso contrário, confesso não gostar muito de ficar lembrando, tipo aquelas fórmulas de física mecânica, que ninguém nunca usa pra saber a velocidade que o carro estava quando, sei lá, rolou um acidente com um cara bêbado. Talvez até fosse bom, porque aí o motorista sóbrio poderia ter uma ideia do quanto deveria reduzir pra evitar o transtorno. Sabe como são essas coisas de bebida, né? Excessos acabam com a gente.
nota 1000000
ResponderExcluirDois comentários suscintos:
ResponderExcluir1)Esse é um dos textos que fundamentam a proposta do Controle Remoto! Informação demais não é sinônimo de mais sabedoria.
2)É POR ISSO QUE EU AMO ESSA TAL DE JULYA!
Vamos fazer um abaixo assinado pra este artigo sair na Veja..:)
ResponderExcluirEu já passei por isso, há alguns meses li diversos livros de um determinado tema num pequeno espaço de tempo, e no final o que aconteceu foi que a minha mente ficou totalmente bagunçada com aquele excesso de informação, aliás, até hoje minha mente está meio bagunçada...Conhecimento sempre é bom, mas apenas se tivermos a capacidade de utilizá-lo.
ResponderExcluirnossa, muito bom o texto!!! =D
ResponderExcluirrealmente o que foi dito faz muito sentido!
mas eu sou a favor das formulas de mecanica na fisica ^^ visto que eu faço engenharia haha =)
MUITO BOOM!A parte que diz "conhecimento só é bom se eu souber o que fazer com ele" realmente me fez pensar sobre o assunto.. Parabéns Julya, tu escreve demaais!Gostei bastante da ultima parte, ainda mais porque sempre fico de recuperação em Física! HAHAHAHA :D
ResponderExcluirUeritom, VEJA? Isso é um elogio é um deboche?! rs
ResponderExcluirMas logo na VEJA, cara?
ResponderExcluirHASHAHAHAHAHAAHAH
Gostei muuuuito do texto, realmente muita informação pode nos deixar louco, muitas vezes nós buscamos todas as informações e no fim não conseguimos colocar nada em prática..parabéns Julya !
ResponderExcluirEstou adorando, o novo controle remoto.
ResponderExcluirEsqueceu da parte "A mídia manipula as informações de acordo a ser mais proveitoso a ela"
ResponderExcluirConcordo em partes. Conhecimento nunca é demais, o importante é não deixar os conhecimentos essencias perderem espaço pros que não são tão importantes...